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"ESPERA-SE UM ANO DE 2023 MUITO DESAFIANTE EM TODAS AS FILEIRAS"

Formou-se e trabalhou na área da saúde, mas abraçou um desafio completamente diferente, no começo de 2022, enquanto vereadora da Câmara Municipal de Castelo Branco e presidente da associação InovCluster, uma associação que tem por missão contribuir para o aumento da competitividade dos produtos e empresas agroalimentares da região centro do país, tanto a nível nacional como internacional. Em entrevista à DISTRIBUIÇÃO HOJE, Patrícia Coelho fala da nova marca Queijos Centro Portugal, 100% nacional e que homenageia os pastores e as técnicas ancestrais de pastorícia do Centro do país, mas também de outros projetos que pretendem acrescentar valor ao setor.

 

Qual o papel da InovCluster e quais foram os principais desafios da sua integração nesta entidade?


Esta associação nasceu em 2009 com o objetivo de dar apoio aos empresários da área agroalimentar. Eu sou presidente desde o início do ano de 2022 e tem sido um grande desafio assumir este cargo. Fui convidada pelo atual presidente do município de Castelo Branco para fazer parte da sua lista nas eleições autárquicas de 2021, a lista venceu e fui eleita vereadora. A InovCluster, assim como a associação CATAA (Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar) são duas associações interligadas ao município, que acaba por ser um parceiro de excelência de ambas. Tive de estudar muito para conseguir agarrar este desafio e estas novas funções. Aquilo que esta associação faz é dar apoio a empresários, a municípios e a entidades que sejam da área agroalimentar, com a maioria do total de associados [179] localizados no Centro do país. Além disto, damos apoio a nível nacional.

Em que consistiu o programa da fileira do queijo DOP da região Centro que culminou com a criação da nova marca Queijos Centro Portugal?


Os queijos DOP são de denominação de origem protegida. É um projeto que foi implementado desde o início da matéria-prima até à fase em que nos encontramos agora e que consiste na divulgação dos queijos DOP. Neste momento, é preciso divulgar e dar continuidade à implementação da marca no mercado. Os consumidores, quando vão fazer as suas compras, ainda não estão despertos para a questão do queijo DOP ou não DOP, nem conseguem fazer a diferenciação entre os dois. Este projeto diz respeito apenas à região Centro e a três regiões demarcadas: Serra da Estrela, Beira Baixa e Rabaçal. Houve, por isso, a necessidade de alavancar estes produtos para que as pessoas consigam perceber a diferença entre estes queijos. Naturalmente, um queijo DOP é mais caro do que um queijo que não tem esta denominação, mas é também produzido com matéria-prima de alta qualidade e necessita de ser valorizado pelo consumidor. Não tem apenas um preço mais elevado, mas uma qualidade efetivamente superior.

 

"Naturalmente, um queijo DOP é mais caro do que um queijo que não tem esta denominação, mas é também produzido com matéria-prima de alta qualidade e necessita de ser valorizado pelo consumidor"

 

Em que é que consistiram as fases iniciais deste projeto?

No início, foi preciso capacitar os pastores através da Escola de Pastores, o que aconteceu na direção anterior da InovCluster. Além de formação, foi dado um apoio financeiro a pessoas que queriam passar a ser pastores e ter um rebanho. É uma profissão pouco valorizada, infelizmente. Foi curioso, porque tivemos a participação de jovens agricultores que quiseram dar este passo. Depois desta primeira fase de capacitação destas pessoas e de aumentar o número de rebanhos nestas três zonas, passámos para uma fase da capacitação e de dar ferramentas às queijarias. Esta fase teve a particularidade de nos permitir ajudar algumas queijarias da zona de Seia que ficaram totalmente destruídas em incêndios, o que também originou graves problemas à produção de queijo na zona da Serra da Estrela. Portanto, foi possível alavancar o apoio a dar a estes queijeiros. Organizámos também a Escola de Queijeiros com o mesmo contexto e dentro da lógica de fomentar a formação. Quando assumi a presidência da InovCluster, o projeto já se encontrava noutra fase, da rotulagem e lançamento dos queijos no evento Inov Food Summit 2022, realizado entre 8 e 10 de novembro de 2022. Foi um evento criado para mostrarmos aquilo que fazemos nesta associação e aproximar todos os envolvidos na área agroalimentar. Foi uma oportunidade de enriquecimento profissional e permitiu dar ferramentas aos empresários para poderem candidatar-se aos nossos projetos, evoluírem nas suas indústrias e comercializarem os seus produtos (que vão além dos queijos).

 

QUEIJOS COM IDENTIDADE PRÓPRIA E QUALIDADE DIFERENCIADORA

A InovCluster, Associação do Cluster Agroindustrial do Centro, a par da parceria com o Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro, acaba de lançar uma nova marca que, através de uma imagem identitária, pretende diferenciar os queijos com DOP da região Centro no mercado e, assim, ajudar a acrescentar-lhes valor, bem como a toda a sua fileira. Criada pela Ivity Brand Corp, a nova marca "Queijos do Centro Portugal" abarca três submarcas figurativas, inspiradas em elementos culturais e icónicos de cada território, criando uma distinção e identidade próprias para os queijos com DOP da região Centro: Queijo da Serra da Estrela DOP, Queijo da Beira Baixa DOP e Queijo Rabaçal DOP. O objetivo é capacitar estas regiões para a preservação e reconhecimento do seu passado associados ao fabrico de queijo, mas também reforçar e incentivar para um futuro mais sustentável e com mais amor pelas artes e ofícios da cultura nacional. Estes queijos partilham entre si a "cura" ou uma maturação rigorosa e o tempo de espera necessários para a afinação do sabor, daí que a assinatura desta nova marca seja: "Guardados pelo sabor". As 15 entidades parceiras do Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro tomaram este como um dos grandes desafios do projeto. A parceria foca-se agora na próxima etapa que será a implementação destas marcas no mercado, esperando-se uma boa adesão por parte dos produtores e consumidores.

 

Na prática, como aconteceu a divulgação desta marca de queijos?


Realizámos ações de rua com exposição dos queijos, em vários locais de Lisboa e no Porto, durante o mês de dezembro. A InovCluster levou assim os seus queijos do Centro para os grandes centros urbanos, onde se concentram grandes aglomerados populacionais, pois promovemos este contacto direto com as pessoas. Os queijos DOP da Serra da Estrela, da Beira Baixa e do Rabaçal têm uma nova imagem e queremos levar o consumidor a provar e a identificá-los/diferenciá-los de outros. Para que estas ações se concretizassem, foi preciso associar os queijeiros, o que nem sempre é fácil. Temos de ajudar a trabalhar com eles para perceberem que a mudança para queijo DOP é importante para valorizarmos ainda mais os queijos. Com a integração de todos, conseguimos criar a valorização de um ecossistema - desde o pastor, ao produtor e a culminar no consumidor - e uma fileira mais saudável. O trabalho até aqui está feito, temos as queijarias e os pastores envolvidos e, até ao final do ano, vamos ter um evento de encerramento do projeto dos Queijos do Centro para apresentação de resultados e julgo que uma das conclusões que podemos tirar é a de que valeria a pena ter um projeto 2.0 para dar um novo passo. Caso o mesmo venha a concretizar-se, julgo que fará sentido podermos contar com os grandes distribuidores para acrescentar ainda mais valor à venda destes queijos que estão nos hipermercados, ainda que a grande fatia esteja presente nos mercados locais.

 

Atualmente, há cada vez mais a necessidade de reinventar o setor agroalimentar em diversas áreas. A InovCluster também tem esse aspeto em consideração nos seus projetos?


Sim. Existem outros produtos locais que precisam de ser tão ou mais alavancados como o queijo, como, por exemplo, o azeite e o mel DOP. Estes dois produtos são da Beira Baixa, mas existem muitos outros de outras regiões, porque é preciso criar este despertar para o DOP independentemente dos produtos que sejam. Uma, grande fatia do consumidor não está desperta para esta questão da diferenciação de produtos, que são uma
mais-valia na mesa portuguesa e que valorizam aquilo que é nosso.

 

Que outros projetos ou serviços promovidos pela InovCluster gostaria de destacar?


Neste momento, estamos a construir um projeto interno, porque temos o know-how, as pessoas, as ferramentas, sabemos como fazer e queremos ajudar os nossos associados a criar, construir e submeter projetos a financiamento. Muitas vezes, as empresas até gostariam de concorrer a um financiamento, mas não conseguem fazê-lo. No caso desses projetos serem aprovados, também ajudamos os nossos associados a implementá-los e a desenvolvê-los. Temos ainda um outro projeto relacionado com a internacionalização e que apoia em 50% o investimento que os empresários fazem para se deslocarem a feiras internacionais, como a Alimentaria, em Barcelona, ou a SIAL, em Paris, e participarem enquanto expositores. Esta participação tem um custo relativamente elevado e este projeto paga 50% desse investimento.

 

É importante aproximar os associados a projetos internacionais?


Temos um projeto em parceria com a associação CATAA e o município de Castelo Branco, o Fusilli [Fostering the Urban food System Transformation through Innovative Living Labs Implementation], que envolve 13 cidades europeias e a única cidade nacional é Castelo Branco. É um projeto que pretende aproximar a comunidade aos produtores e aos produtos locais e implementar estilos de vida e hábitos de alimentação saudável. Este projeto arrancou no início do ano e vai terminar em final de 2024. Em Castelo Branco, temos estado a dar formação à população através de showcookings, workshops e a ir às escolas. Temos a noção de que se conseguirmos passar a mensagem aos mais novos conseguimos chegar aos pais e aos avós. Envolvemos também o nosso mercado municipal, onde o projeto está uma vez por mês. Temos um produto em destaque mensalmente e optamos por fazer essa escolha de acordo com a sazonalidade, fazemos demonstrações e desenvolvemos ações. O facto de termos a associação CATAA também neste projeto permite que os nossos investigadores consigam transformar um produto em laboratório e torná-lo mais saudável. Por exemplo, em dezembro, a ideia foi criar uma receita saudável para o Natal. De 14 a 17 de fevereiro de 2023, vamos estar na Biofach, na Alemanha, com este projeto "Taste&Feel Portugal" e vamos levar e expor os produtos dos nossos associados. Queremos ajudá-los a abrir caminhos nas suas perspetivas de negócio e a ter uma relação de proximidade com eles.

 

De que forma é que promovem a ligação ao setor da distribuição e do retalho?


Enquanto associação, o nosso objetivo passa por dar apoio aos nossos associados através dos nossos vários projetos, mas também ajudá-los caso tenham algum problema na distribuição, por exemplo, e sugerimos eventualmente um outro associado, criando sinergias. Podemos fazer este trabalho de interação entre todos. Gostávamos de ter empresas na área da distribuição nos nossos associados [temos instituições de ensino, de investigação e desenvolvimento, municípios de várias zonas do País, etc.], mas até agora não nos procuraram.

 

Sentiram alguns constrangimentos por parte dos produtores devido à pandemia e agora à inflação?

O que ouvi por parte dos queijeiros é que houve uma quebra de vendas por altura da pandemia, mas que conseguiram recuperar de alguma forma, em seguida. No próximo ano, o município vai organizar uma feira do queijo em Alcains, durante o mês de maio, e além dos queijeiros da Beira Baixa, gostaríamos de contar com outros queijeiros a nível nacional e internacional. Em 2022, já conseguimos trazer alguns queijeiros espanhóis, mas gostaríamos de acrescentar ainda mais valor. Convidamos todos os queijeiros a participar para mostrarmos o que se faz de bom em Portugal. Espera-se um ano de 2023 muito desafiante em todas as fileiras.

 

PERFIL - PATRÍCIA COELHO

Licenciou-se em Cardiopneumologia, em setembro de 2003, pelo Instituto Politécnico de Coimbra - Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra e concluiu o mestrado em Intervenção Socio Organizacional na Saúde, em novembro de 2008, pela Universidade de Évora. Em dezembro de 2013, doutorou-se em biomedicina pela Universidad de Extremadura - Campus
Badajoz. É professora adjunta no Instituto Politécnico de Castelo Branco - Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias, subdiretora de Unidade Orgânica no Instituto Politécnico de Castelo Branco, vereadora com vários pelouros da Câmara Municipal de Castelo Branco e presidente da associação Inovcluster.

 

Notícia e Reportagem de: https://www.distribuicaohoje.com/ | TEXTO: CLÁUDIA PINTO // FOTOGRAFIA: DR